
Me Isolei em uma Fazenda no Interior da Espanha para Aprender Espanhol
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Uma jornada de autoconhecimento, superação e novas conexões
Hoje, vamos contar a história de Yuri, alguém que decidiu transformar um simples desejo em uma experiência de vida. Ele queria aprender espanhol, mas não do jeito convencional. Em vez de aulas e livros, escolheu uma imersão real, longe de tudo o que era familiar. Seu destino? Uma fazenda isolada no interior da Espanha, onde ninguém falava português e onde ele teria que se virar para sobreviver, aprender e se conectar. Esta é a jornada de alguém que descobriu que, às vezes, sair da zona de conforto é o único caminho para um verdadeiro recomeço.
Tudo começou com uma decisão: em 2024, eu aprenderia espanhol. Nunca tinha estudado a língua, nem sequer tinha tido um contato real com ela, mas estava determinado. Em maio, embarquei para Buenos Aires e passei quase dois meses morando lá. No entanto, acabei cercado por brasileiros – morava com dois e fiz amizade com muitos outros. A experiência foi incrível, mas, quando percebi que meu espanhol não havia evoluído como eu queria, fiquei frustrado.
Dois meses depois, já tinha uma viagem marcada para a Europa com amigos. Em parte do roteiro, eu seguiria sozinho e precisava decidir como aproveitar aquele tempo. Foi então que tive uma ideia ousada: passar um mês isolado na Espanha, mergulhado no idioma. O problema? Eu não tinha dinheiro suficiente para bancar hospedagem e alimentação. Foi aí que conheci a plataforma Worldpackers e encontrei a solução perfeita: um voluntariado em uma fazenda.
Se eu queria aprender espanhol de verdade, precisava me isolar. E onde seria melhor do que uma fazenda no interior da Espanha? Me inscrevi e fui aprovado. Destino? Córdoba, na região da Andaluzia. A fazenda ficava a 40 minutos da cidade e, quando cheguei, senti um frio na barriga. Eu não falava espanhol bem, não conhecia ninguém e não fazia ideia do que me esperava. Mas fui assim mesmo, confiando que tudo se resolveria.
Meu dia a dia na fazenda consistia em cinco horas de trabalho diário: construção de cabanas, cuidado com os animais e cozinha. No restante do tempo, eu trabalhava remotamente para o Brasil. O grupo era diverso: quatro colombianos, um peruano, um marroquino, dois mexicanos, dois espanhóis e três estonianos. NINGUÉM falava português. Perfeito! Nos primeiros dias, minha cabeça doía de tanto tentar entender o idioma. Mas, a partir do quarto dia, algo mudou. Meu ouvido se acostumou, as palavras começaram a fazer sentido, e aquilo que antes parecia estar no "2.0x do WhatsApp" passou a ser natural. De repente, eu estava conversando sobre tudo: o dia a dia, o trabalho, a vida. Aprendi vocabulário que nunca aprenderia em um curso e, o melhor de tudo, conheci pessoas com histórias e culturas incríveis.
O voluntariado é uma experiência única. Não é apenas sobre trabalho em troca de hospedagem; é sobre conexões intensas e inesperadas. De repente, um grupo de desconhecidos vira família. Compartilhamos refeições, histórias, risadas e até momentos difíceis. Teve dia que chorei de saudade e solidão, mas, no dia seguinte, algo mudava e eu me sentia bem de novo. Com o tempo, aquela rotina simples e pacata passou a fazer sentido, e quando chegou a última semana, meu coração apertou por saber que nada daquilo se repetiria exatamente da mesma forma.
Os momentos compartilhados foram inesquecíveis. Lembro do dia que fiz strogonoff para todos e eles disseram que era a melhor coisa que já tinham comido. Lembro também do dia em que percebi que, sem me dar conta, eu já estava falando espanhol naturalmente. Errava? Sim. Mas eles me corrigiam, riam e me ajudavam.
Hoje me pergunto o que teria sido de mim sem essa experiência. E, por causa dela, meu futuro agora está ligado a essas pessoas de um jeito que eu nunca imaginei. No próximo ano, tenho um casamento no México de um casal de amigos que conheci lá. Sei que sempre terei uma casa no Peru e conheço a Colômbia melhor do que nunca. Essas trocas ampliaram minha visão de mundo, me desafiaram e me transformaram.
Viver assim é, na minha opinião, uma das melhores formas de viver. Não precisa ser para sempre, mas, se você tiver a chance, permita-se ao menos uma vez sair da sua zona de conforto e viver algo completamente novo. Pode ser que, como eu, você descubra um mundo que nunca mais queira deixar para trás.