56 Quilômetros de Aventura, Bondade e Reflexão Sob a Chuva
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Escrito por Arthur Lanari | @arthurlanari
Meu segundo dia na transamazônica, tive que andar 56 quilômetros e acampei em uma casa abandonada. . . .
Estava de saída do vilarejo de Acajatuba-AM. Tinha feito um voluntariado em uma pousada muito irada, a Caboclos House. Minha ideia era retornar ao Rio de Janeiro para publicar meu segundo livro.
Já na primeira carona, sentido Manaus, me avisaram que no dia seguinte a cidade entraria em Lockdown total. Então, decidi pegar um barco no mesmo dia que cheguei para atravessar até o início da transamazônica e atravessar o estado pela BR 319. Seria ótimo chegar logo em Rondônia, porque lá ainda não tinha aviso de Lockdown.
No primeiro dia consegui percorrer apenas 114km e acampei em um posto de combustível em Careiro Castanho-AM. Como todo o estado entraria em Lockdown, nem no posto de combustível poderia estar.
Decidi caminhar em direção a Tupana, o próximo vilarejo a 66km. Imaginei que no caminho alguém pudesse parar. Consegui uma carona curta de 10 quilômetros com o cigano, que dirigia um caminhão de lixo e depois disso ninguém mais parou.
Resultado: ANDEI 46 QUILÔMETROS CARREGANDO TODAS AS MINHAS COISAS.
Depois dos primeiros quilômetros a mochila começou a pesar e a amarrei ela em cima do meu long, peguei uma outra corda que também amarrei no long e o fiz de carrinho.
Os carros passavam muito rápido e ninguém parava. Depois de um tempo aceitei que provavelmente só conseguiria carona em Tupana, onde não seria tão no meio do nada. Percebi a beleza ao viajar de uma maneira lenta.
Os igarapés e rios que mergulhei no caminho para me refrescar naquele sol forte da tarde. A bondade de algumas pessoas ao me darem uma garrafa de água congelada para aguentar o calor, uma refeição, o cafezinho para dar um gás na viagem.
A estrada realmente era bem ruim, mas as pessoas que viviam ao redor eram incríveis. No final do segundo dia, depois de caminhar por 12 horas, começou a chover muito forte. Ainda bem que carregava uma lona azul para fazer um telhado para minha barraca. Ela também foi uma ótima capa de chuva! Só deu tempo de cobrir minhas coisas e ficar parado um pouco na beira da estrada para que não molhasse nada.
Quando a chuva diminuiu avistei uma casa abandonada dentro do mato e foi lá mesmo onde armei minha barraca e passei a noite. Só que mesmo cansado e molhado, após ter armado minha barraca fiquei observando a chuva caindo.
Obsorvendo tudo o que estava passando naquele dia. Era muito doido perceber que mesmo com tantos obstáculos sempre apareciam pessoas no caminho para aliviarem. Até mesmo essa casinha de madeira que estava.
A situação poderia estar complicada, mas estava alimentado e ainda tinha metade de um teto para dormir. No fim das contas agradeci, por estar ali no meio do mato e não trancado em um apartamento.